Thursday, March 31, 2011

Declaração de Imposto a Deus


(...)
Eu, exceptuando os meus cabelos, desejo imperiosamente largar a minha língua, a que Deus me deu, para a outra, a que ganhei ao mar, e escrever coisas impossíveis. Em vez disso, aqui estou, com a minha língua de fora, a proferir palavras que não entendo, enquanto os segredos dos diques rebentam na minha língua cortada pelo fio dos cabelos.
(...)

- Joana Serrado -


Wednesday, March 30, 2011

1 de cada sul por dia.

João Villalobos
www.emocoesbasicas.blogspot.com
www.facebook.com/joao.villalobos


Idra Novey O seu primeiro livro de poemas, The Next Country recebeu o prémio Kinereth Gensler de Alice James Books e foi incluído na lista de Melhores Livros de Poesia de 2008 daVirginia Quarterly Review. Recebeu prémios da Poetry Society of America, National Endowment for the Arts, Poets & Writers Magazine e do PEN Translation Fund. Traduziu dois poetas brasileiros nunca antes vertidos para a língua inglesa, Paulo Henriques Britto comThe Clean Shirt of It (BOA Editions, 2007) e Manoel de Barros com Birds for a Demolition (Carnegie Mellon, 2010).


Novey é de momento Director of Literary Translation na School of the Arts da Universidade de Columbia.




Jorge Fallorca (Mortágua 15/6/49), poeta e tradutor, com a viragem do século – que se antecipou a lavrar-lhe o corpo, Água Tatuada (& etc., 1999, esg.) – entregou-se à irremediável vagabundagem, denunciada pelas esclarecidas mentes que julgaram vislumbrá-la em Imitação da Morte dos Outros (& etc., 1976, esg.) e A Luva In Love (Assírio e Alvim, 1977, esg.).
Tão avesso às opiniões descartáveis como à vida requentada, não resistiu à tentação de opinar sobre as artes em jornais defuntos; nem de se decantar em estações de rádio, onde cultivou uma surdez galopante que o remeteu para o sussurrar das vagas e das alfarrobeiras.
Reeditados os títulos esgotados – Fruta da Época (frenesi, 2001) –, foi-lhe dada a oportunidade de se distanciar de tudo e de todos: A Cicatriz do Ar (Black Sun, 2001; edição única do autor, 2009), Entre Chipiona e Tarifa (Teorema, 2002), Al-Khaïma (Teorema, 2004), Longe do Mundo (frenesi, 2004), Blues Para Uma Puta Velha (& etc., 2010), O Livro do Fim (Deriva, 2011) e Nem sempre a lápis (tea for one, 2011). Viveu sete anos no Al-Gharb e tornou-se visível por algures em 2008; redige o blog http://nemsemprealapis.blogspot.com/

Tuesday, March 29, 2011

a sul





































Radeo_01, Beleza Descartável, Marco Moura


mais aqui.

1 de cada sul por dia.

Celeste Wladyka, 1983. Mora em Buenos Aires, onde nasceu, mas tem Lisboa traçada no coração. Estuda Letras e vai trabalhar de bicicleta. Tem publicado artigos académicos sobre poesia e música, traduz poetas portuguesas com amor e faz canções. Os quatro poemas que aqui se apresentam fazem parte da série Poemas do português, fruto da paixão pela língua de Camões.




Joana Serrado é uma trintinha gorducha, com estrias, que lê Lamartine em jardins frequentados por homens de gabardine. Quer escrever um poema que salve o mundo e cale o Herberto (por esta ordem, necessariamente).





Sofia Ferreira
http://sofiaciente.tumblr.com/

Monday, March 28, 2011

para flauta, violoncelo e sala


regresso aos teus olhos.
escuros como batalhas.
sem prosas, hoje respiro.
digo: ouço. (e perto,
lembro-me: escuros).


uma sala vazia é melhor.
para a ressonância:
do violoncelo, entendes?
hoje regresso a eles. sem
acentos, nem perguntas.
estendo-me no chão da casa


e recuo. deixo a vertigem
(várias) as estações (o próprio
tempo, se pudesse). digo:
ouço. saio da locomotiva
a meio do percurso. digo
que me sinto mal, e sento-me


longe dos aparelhos. regresso.
uma sala vazia é melhor. entro.
levo a mão direita dentro
do casaco. (lado esquerdo). o frio
repara nisso.


- Bruno Béu -

1 de cada sul por dia.

Cecilia Eraso (Neuquén, Argentina, 1978) é poeta, docente e investigadora. Tem publicados dois livros de poemas – Isolario (Neuquén, Cartonerita Solar, 2010) e plutón canta (Buenos Aires, Editorial Funesiana, 2010) e a plaquete Orientación Este no P.L.U.P. (Proyecto Latinoamericano de Unión Poética, 2010). Faz parte do conselho editorial da revista de literatura www.elinterpretador.com.ar e coordena com outras poetas o P.L.U.P. (Proyecto Latinoamericano de Unión Poética, 2010).


Henrique Manuel Bento Fialho nasceu torto. Nunca se há-de endireitar.


Marco Moura é um artista plástico que finalizou o Curso Técnico-profissional de Artes Gráficas da ARCA – E.A.C. em 1999 e de Comunicação e Design Multimédia na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) em 2010, tendo ganho vários prémios Nacionais na área de Ilustração, banda desenhada e design gráfico. Trabalhou em empresas como a Memorandum (actual Cision), Take The Wind e é director artístico da Bits e Saberes. Actualmente continua a trabalhar como freelancer em diferentes áreas, tais como a pintura, ilustração, fotografia e design.


Renato Carreira nasceu em 1977 e tem-se mantido vivo de forma mais ou menos contínua desde então. Frequentou vários estabelecimentos de ensino, fez trabalhos de mérito intermitente e conquistou uma reputação unânime de “gajo esquisito” entre aqueles que com ele privaram. Passa demasiado tempo a atafulhar o ciberespaço com coisas como a Inépcia (www.inepcia.com) desde 2001.Gosta de bifinhos com cogumelos, mas não nega um bom bacalhau à brás, uma francesinha com batata frita ou uma alheira de Mirandela. O grão-de-bico será sempre a sua perdição derradeira. Promete ofertar uma quantia simbólica em dinheiro a quem o abordar na rua, segredando-lhe ao ouvido as palavras “Costa da Caparica”.

Sunday, March 27, 2011

I

vejo-te na soleira da porta
hesitas. em cena apenas estou eu
penso em mudar-me mas entre  erros
e  desculpas falta-me espaço

se contares histórias  serão daquelas que
ninguém quer ouvir
relatos de passeios de domingo onde há sempre ruínas
sim, restaram apenas ruínas escavadas no interior dos olhos
  

II

entras, não tens medo
rodeado de olhares com sono que ainda não sabem
Que as palavras são sempre as mesmas
(uma espécie de cerimónia onde te repetes para evitar a morte)

mentimos os dois sobre uma história feita de fragmentos

dizes que nem sempre o guião é o mesmo
mas repetes-me o teu monólogo ao ouvido

“deixa-me sair” vou abandonar a personagem
que balança no vazio

ultima tentativa: observo-te e tu já não me vês
conheces-me tão pouco, não, isto…
isto não é um dueto, é um duelo

friamente o silêncio cai sobre nós
não há vozes nem adereços
(a cena está vazia)

há apenas uma cortina de vento onde as palavras
nunca se moldaram


- Maria Sousa -

Saturday, March 26, 2011

a sul

Photobucket

Doctor Love, João Rios
Acontece a miúda, saia blusa, pálida, junto ao fim de pescoço, terço de domingos ao peito, acontece a luz que lhe adoça o rosto, a ternura que se esbate ao forçar a vista contra o sol, as escadas do pátio mais sujo das semanas, das horas que as sobe, sobe os minutos como degraus, passo de sabrina branca, um pouco de prata e poucos segundos, que deus é seu deus em branco sabrina nos pés, manhãs à sombra da janela mais fria desta cidade que diz, - Acontece.
(...)

-Beatriz Hierro Lopes-


1 de cada sul por dia.

Bruno Béu prepara-se para defender um doutoramento em filosofia. É docente convidado no curso de especialização da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Filosofia e Estudos Orientais. Membro integrado do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e sócio do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. Tem poesia publicada em antologias de poesia portuguesa contemporânea e revistas literárias.


Beatriz Hierro Lopes, míope, nasceu no Porto em 1985. Formada em História, actualmente ganha a vida a contar prédios e a contar histórias do Porto a gente pequena. Nunca usou lentes de contacto e gosta de ver as pessoas desfocadas.



João Rios, picheleiro de válvulas cardíacas, absorve em versos e cores
os excrementos e os luxos da cidade.



Michel Laub nasceu em Porto Alegre, em 1973. Escritor e jornalista, foi editor-chefe da revista Bravo e coordenador de internet do Instituto Moreira Salles. Hoje é professor de criação literária (Academia Internacional de Cinema, B_Arco, Sesc) e colaborador de diversos veículos e editoras.
Publicou quatro romances, todos pela Companhia das Letras: Música Anterior (2001); Longe da água (2004), lançado também na Argentina; O segundo tempo (2006) e O gato diz adeus (2009). Recebeu o prémio Erico Verissimo/Revelação, da União Brasileira dos Escritores, as bolsas Vitae, Funarte e Petrobras e foi finalista dos prêmios Jabuti, Portugal Telecom (duas vezes), Fato Literário/RBS e Zaffari/Bourbon. Tem textos publicados em Itália e na Coreia.
Blog: http://michellaub.wordpress.com/

Friday, March 25, 2011

mais uma a Sul

Photobucket
Menina III, Gonçalo Martins
Orbis terrarum


as ruas nos mapas
nos papeis, as palavras
fracos fios pretos
num atlas de anatomia do corpo humano
traçam-se avenidas interiores
largos, becos, cantinhos, travessas
sobem e descem
dobram-se e erguem-se
ao percorrer a cidade
a língua faz-se carne
os órgãos recebem
nomes de ruas
as pedras amolecem
no contacto da mão
os verbos revelam
os poderes secretos
das articulações

as ruas nos mapas
nos papeis, as palavras
fracos fios pretos
feitos carne na voz
terramoto selvagem
que desaba a fala da mãe
fluxo quente que esconde
vestígios do mar
voz que atravessa
a língua portuguesa
e sai do peito
do mais perto
do coração
a ferver
no forno
do centro
do rosto


- Celeste Wladyka -

Thursday, March 24, 2011

1 de cada sul por dia.

Ana C. nasceu em Lisboa, há 35 anos, sob o signo de Capricórnio. Cedo se lembra de escrever estórias e poemas. Apesar disso, quis tentar mudar o mundo de outra forma e enveredou pela Sociologia.
Começou por escrever a tinta de caneta e a lápis mas converteu-se facilmente aos computadores e aos blogues, onde vai arquivando os seus escritos. Não dispensa, contudo, esquecer-se de palavras em folhas soltas, flyers, pacotes de açúcar, bilhetes de autocarro…
Há uns anos vislumbrou a concretização do sonho de ter uma livraria fora do comum e hoje, com mais ou menos livros à volta, acha que, no fundo, sempre lutou contra a possibilidade de ser apenas mais uma maria vai com as outras.
Habita no Porto. E habita-se a si e aos outros. E aos lugares. Mãos e árvores. E, acima de tudo, habitua-se à ideia de não conseguir mudar o mundo mas de ser sempre possível mudar-se nele.


Ângela M., nasço e vivo no Porto, respiro estas ruas de sol que tantas vezes me surpreendem. Acordo com pássaros de manhã, misturo números e ruas que deslizam até ao mar e sorrio muito quando uma Mulher - Poeta como tu, Maria, me convida a escrever para uma revista assim.


Gonçalo Martins tem hoje 28 anos, mas era pequeno quando descobriu que o fogo tinha magia. Lembra-se que devia ter uns 7/8 anos quando começou a queimar pontas de papel de jornal com fósforos, e assim acidentalmente incendiou a montra da loja da mãe. Gonçalo Martins estudou Artes Plásticas na ESAD de Caldas da Rainha onde aprendeu que essa força do fogo pode ser uma coisa boa e criativa e descobriu que o fogo pode ser a melhor de todas as ferramentas para pintar e ilustrar, carregado de simbolismos e conceitos, o fogo é a sua arma. Entre outras coisas Gonçalo procura uma através do fogo relação entre corpo/tempo e tempo/mente. Gonçalo acho que é um pessimista, as pessoas dizem que ele é apenas romântico.

Gilbert Keith Chesterton, conhecido como G. K. Chesterton, (Londres, 29 de Maio de 1874 — Beaconsfield, 14 de Junho de 1936) foi um escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, filósofo, desenhista e conferencista britânico. Ficou famoso como o criador dos contos do Padre Brown. G. K Chesterton era um católico convertido num país de anglicanos. Chesterton era uma "máquina" intelectual. Escreveu mais de 4.000 artigos para jornais, uns 100 livros e aproximadamente 200 contos, quase todos ditados à sua secretária.

Licença Creative Commons
A Sul de Nenhum Norte by Nuno Abrantes & Maria Sousa is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Proibição de realização de Obras Derivadas 3.0 Unported License